Ela estava sentada parada e intacta em seu canto, perto do fogo. Olhava para as chamas como se pudesse controlá-las, como se isso pudesse surtir algum efeito. Enquanto isso, um velho e um moço conversavam despreocupadamente, quando algo prendeu a atenção dos dois.
-Aquela, disse o velho -é o anjo que você tanto procura. Mas seja educado, tenha bons modos, e ela virá até ti antes que te percebas.
-Como sabes? disse o moço, arqueando suas grossas sobrancelhas negras.- Como sabes que a muito procuro uma razão pra viver?
-Meu jovem... Eu já tive a tua idade. Sei dos teus anseios e principalmente dos teus receios. Não te direi para teres cuidado, pois a própria vida me ensinou que algumas coisas só se aprende a duras penas. Sei que sabes que tal anjo representa teus extremos; podes encontrar tua felicidade eterna, ou a tua ruína mais temida. Tens dois caminhos à escolher, mesmo não sabendo das consequências. Agora vai, corre silenciosamente e arrebata-a! Ter medo é bom, pois implica cautela, mas terás de moderá-lo. Quando tinha a tua idade deixei que o receio tomasse conta dos meus sonhos, e agora não tenho estruturas nem motivos para correr o mundo. Vá e o faça por nós dois!
-E como terei certeza de que escolhi o caminho certo?
-Certo e errado são apenas barreiras impostas por nós mesmos para nos limitar. Vê, teu anjo está a olhar para ti. É chegada a hora. Não tenhas medo da morte. Quando chegares a minha idade verás que ela é a única companheira certeira até o final.
-E se a morte vier antes que eu queira?
-Somente Ela sabe de suas horas. Agora vai, pega teu anjo e vê no que dá.
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