sábado, 26 de abril de 2008

22:39

O ontem, o hoje e o amanhã:
Aparentemente iguais
Vistos do meu angulo:

Acordar já não me é satisfatório;
Estar viva já não me é o bastante;
E percebe-los me dói mais que suas palavras.

O sol, novamente
Durante milhares de anos, brilha.
As nuvens, a chuva, as pessoas...

É tudo muito igual,
Muito padronizado...
Cancei-me dos padrões!

Apresentem-me prazeres
Antes que eu morra nessa angustia
De viver e não somente existir!

Pacatez

Hoje eu não tive vontades.
Não quis te perder,
Nem ao menos te ganhar.
Não senti dores,
Não recusei amores,
Não me alegrei
Nem me entristeci.
Não vi nada novo,
Não me encantei com o velho.
Não me surpreendi.
Não quis chorar,
Não pude sorrir.
Hoje, como sempre,
A esperança me deu forças
Pra tentar viver
E me esquecer do resto.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Palavras Futeis e Inuteis

Palavras ditas ao acaso
Irreais, porém bonitas
Me despejam num transe raro:
Doar-me á tuas atenções,
Ou doar-me ei àos dias estranhos?
Não; duvidas não me atormentam.
Insensíveis, sejamos então
Às peripércias do destino.
Nos doemos à julgamentos precipitados
E acabemos com as reguíces de uma só vez.
O vento sóbreo que me toca
Ou a morte precipitada?
A ignorância humana
Ou a suposta superioridade intelectual dos animais?
Irracional torno-me agora por estes versos;
Mal traçados, mal escritos, implanejados.
Julgarme-há por minha pessoa,
Ou pelo complexo de inferioridade subexistêncial em que me encontro?

22:52

E se as luzes se apagassem?
Os anjos cairíam por nós?
Declarações romanticamente tristes,
Dedicações ridiculamente póstumas,
Afagos inúteis, sem sentimentos.
Será que alguém cairia por nós?
Atrocidades tornando-se normais.
Banalidades...
A luta está gasta.
Grandes líderes tornando-se clichês,
Telas frias tmando nossas mentes.
E por nós? alguém cairia?
Interrogações e reticências.
Frases infundadas,
Sem alma nem sentido
A poesia morreu.
E por nós? alguém morreria?

sexta-feira, 18 de abril de 2008

A poesia

A poesia não me alarga as ancas.
Não me enche o peito,
Não me dá coragem.
Não me faz feliz,
Nem infeliz, ao menos.

A poesia não me faz mais feminina.
Não me deixa mais bonita,
Não me deixa mais sociavel,
Não me faz sorrir.
Não me melhora.

Mas a poesia não é tão ruim,
Me consola,
Me dá colo,
Me embriaga,
Me faz mais eu.

Novamente... Sem titulo

O ócio me inspira.
O ódio me inspira.
O ar, a guerra, a morte.
O beijo, o fraco, o forte.
A solidão é a minha porta de entrada.
Uma viagem, um pulo pro nada.
A mente, vazia,
Expressa a vida,
Num voo pro nada.
O silêncio me inspira.
Seu silêncio me inspira.
O precipício,
Os anjos tortos,
A embreaguês.
Minha inspiração,
Não é mais a vida,
Mas a morte possível
Da vida, em questão.

Outra Vez Sem Titulo

Oh, rapaz...
Não sabes quanto tempo
Eu anseio por teu "oi".
"Oh, não sumas!", eu digo sempre,
Mas quem disse que você me entende?
As horas passam, como sempre,
E eu não devia esperar menos de você.
Mas as horas passam,
Me angustiam, me enfurecem,
E eu continuo me frustrando,
Esperando sempre mais de você.
As palavras já não soam tão naturalmente,
Os pensamentos, tensos
São naturalmente, letalmente meus.
"Oh, não sumas!", eu digo sempre,
Mas você nunca me entende!
Tal como éter,
Vicio-me cada vez mais em tua melancolia.
Teus olhos não me fitam mais.
Teus pensamentos já não me são devotados.
E eu lhe imploro,
"Oh, não sumas!"
Oh, rapaz...
Não sumas,
Não me deixe,
Não me abandone,
Não me deixe morrer!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Pontos Fixos

Nem os olhos do cego puderam ver...
Não, ninguém poderia, nem se quisesse.
Os anjos caíram,
Mas não foi minha culpa.
As mãos estão tremulas, com certeza.
Mas as pessoas já não me esperam.
Talvez eu não volte.
Não quero voltar.
O vento não está ao meu favor.
Ninguém está.
As ordens são claras:
"Vá, faça seu melhor,
E caia no esquecimento"
.A noite, tão leve quanto a mente.
A bruma, tão solta quanto os cabelos,
E as estrelas caindo...
...Cada vez mais.
Meus olhos,
Não se movem.
Pontos fixos em minha mente.
Correr e pegar.
A felicidade?
Não.
A morte.

Para meu Anjo Torto

Quem é você?
Anjo torto,
asas sujas,
Me encanta, me espanta, me cura...
Me adoece.
Quem é você?
Por que se reluta a me mostrar quem és realmente?
Medo?
Desconfiança?
Raiva?
Por que?
Anjo torto...
Mente torta...
Me encante mais um vez,
Antes que eu durma,
E não queira acordar...

domingo, 13 de abril de 2008

Anjos

Ela estava sentada parada e intacta em seu canto, perto do fogo. Olhava para as chamas como se pudesse controlá-las, como se isso pudesse surtir algum efeito. Enquanto isso, um velho e um moço conversavam despreocupadamente, quando algo prendeu a atenção dos dois.
-Aquela, disse o velho -é o anjo que você tanto procura. Mas seja educado, tenha bons modos, e ela virá até ti antes que te percebas.
-Como sabes? disse o moço, arqueando suas grossas sobrancelhas negras.- Como sabes que a muito procuro uma razão pra viver?
-Meu jovem... Eu já tive a tua idade. Sei dos teus anseios e principalmente dos teus receios. Não te direi para teres cuidado, pois a própria vida me ensinou que algumas coisas só se aprende a duras penas. Sei que sabes que tal anjo representa teus extremos; podes encontrar tua felicidade eterna, ou a tua ruína mais temida. Tens dois caminhos à escolher, mesmo não sabendo das consequências. Agora vai, corre silenciosamente e arrebata-a! Ter medo é bom, pois implica cautela, mas terás de moderá-lo. Quando tinha a tua idade deixei que o receio tomasse conta dos meus sonhos, e agora não tenho estruturas nem motivos para correr o mundo. Vá e o faça por nós dois!
-E como terei certeza de que escolhi o caminho certo?
-Certo e errado são apenas barreiras impostas por nós mesmos para nos limitar. Vê, teu anjo está a olhar para ti. É chegada a hora. Não tenhas medo da morte. Quando chegares a minha idade verás que ela é a única companheira certeira até o final.
-E se a morte vier antes que eu queira?
-Somente Ela sabe de suas horas. Agora vai, pega teu anjo e vê no que dá.

Esse Aqui Não Tem Titulo!

Aos entes,
Queridos ou não
Não me entendam.
Lhes peço,
Lhes suplico,
Não me entendam.
Não esperem as horas passarem.
Não esperem a vida passar.
Não me entendam.
Não,
Não façam da vida um martírio,
Não procurem certezas.
Não, não esperem o fim pra ter vontade de gritar.
Gritem...
Chorem...
Pulem...
Não me esperem pra ter vontade gritar.
Não esperem nada...
FAÇAM!
Não esperem que os espelhos entortem...
Não esperem que os quadros falem com vocês!
Não......parem no tempo.
Voltem à infância,
Mesmo que ela não tenha sido a melhor.
Voltem ao início,Foi bom pra você?
Voltem...E façam tudo de novo.

Aquele Dia

Ainda estava cedo,
O céu, limpo e claro.
Seus olhos me fitaram
E só então percebi:
Não foi teu sorriso,
Muito menos sua zanga.
Suas roupas, sua voz,
Ou as frases tão planejadas.
Nem a chuva que nos banhou
Ou a espera, tão ligeira e tão longa.
Foi você,
Tão somente comigo.

sábado, 12 de abril de 2008

A Felicidade

A minha visão ainda estava meio sem foco, mas eu podia ver claramente aquela menina brincando. Ela era linda. Branca, de cabelos e olhos negros, seu vestido esvoaçante impecavelmente alvo, e um sorriso que explodia em meiguice e alegria. De repente, ela começou a vir em minha direcção, até chegar e parar defronte a mim. Ela estava cabisbaixa, mas ainda assim me olhava nos olhos. Agora ela nem sequer esboçava o sorriso de antes. Seu rosto agora demonstrava raiva e desprezo, e eu tinha certeza que tal criatura os nutria apenas por mim.
-Por que me abandonou?- disse ela virando o rosto, que agora estava vermelho, e eu podia ver lágrimas peroladas mareando sua face.
-Não tive escolha! Sei que te larguei por um tempo, mas eu não queria que tivesse sido assim.
-É sua culpa sim! Você me deixou para se parecer com os outros, que vivem materialmente e esquecem seus espíritos para parecerem "normais". Agora eu não posso voltar.
-Por que?- disse eu, vertendo em lágrimas.
-Para que eu possa voltar, você tem que me cultivar em seu coração, e não me deixar escapar nos maus momentos. Não se importar com o que os outros dizem sobre você, fazer com que todos te admirem, mas não pela sua riqueza material. Que te admirem pura e simplesmente pela sua vontade de viver.
-Mas um dia você irá voltar?
-Eu sou a sua felicidade. A minha volta só depende de você.

Versos pro Vento

Os anos se passam com o vento.
Quanto mais vida, menos vida,
Dizia o mendigo.
Dez anos em um
Ou um ano em dez?
Duvida cruel, diria qualquer um.
Não sou qualquer um.
Duvida cruel, diria eu
Ao caso de escolher entre eu e você.
Felicidade não é para todos
Temos plena consciência disso.
Nem anjos, nem diabos
Não ousamos ser nenhum desses.
Não ousamos ser mais que podemos
Por isso, tanta regressão.
Este é o verdadeiro começo de tudo:
Mentiras, verdades ou depressão?

O Início

XLVI

O rumor das vozes e veículos acordou um mendigo que dormia nos degraus da igreja. O pobre-diabo sentou-se, viu o que era, depois tornou a deitar-se, mas acordado, de barriga para o ar, com os olhos fitos no céu. O céu fitava-o também, impassível como ele, mas sem as rugas do mendigo, nem os sapatos rotos, nem os andrajos, um céu claro, estrelado, sossegado, olímpico, tal qual presidiu às bodas de Jacó e ao suicídio de Lucrécia. Olhavam-se numa espécie de jogo do siso, com certo ar de majestade rivais e tranquilas, sem arrogância, nem baixeza, como se o mendigo dissesse ao céu:

-Afinal, não me hás de cair em cima.

E o céu:

-Nem tu hás de me escalar.

Qincas Borba, de Machado de Assis.